Atlético Paranaense, 86 anos
por Mauro Beting
Gostaria de falar com meus netos quando tiver 86 anos. Não sei se os terei (os 86 anos, porque os netos tenho certeza, com os dois filhos maravilhosos que tenho). Mas sei que alguma coisa boa terei feito. Além deles, claro.
Coisas boas, você sabe. Um legado. Uma história. Afinal, em 86 anos, a gente pode errar muito. Pode bobear na cara do gol. Pode perder gols feitos. Pode frangar. Falhar. Perder títulos ganhos, como em 2004. Fazer lindo por todo o Brasil, como em 2001. Ou mesmo em 1983, quando só um time espetacular – não por acaso rubro-negro – acabou com a festa.
Acabou, vírgula. Pode ter encerrado um sonho, não enterrado. Não se mata paixão. Naquela terra paranaense, em todo o Brasil que foi Atlético, o Furacão honra o nome. Aliás, o único que se tem notícia que é boa nova. Os furacões como fenômenos meteorológicos têm nomes. Aquele de 1949 também tinha seus nomes e fenômenos: Laio, Délcio, Valdomiro, Waldir, Wilson, Sanguinetti, Viana, Rui, Neno, Jackson, Cireno, Caju, Nilo, Peres, Joaquim, Cordeiro, Guará, Villanueva, Toco. Todos fizeram um pouco nessa história de muitas graças em 86 anos de vida.
Grandes nomes como Caju. O do CT que mostra a bela estrutura atual, moderna como a arena exemplar. Campeões do mundo como Kleberson. Mitos como Sicupira. Tantos em 86 anos. Mas, talvez, o mais atleticano, sem ser o maior craque, ou o mais amado, seja Ziquita, olhando aqui de fora. Um centroavante de boas e más partidas. Típico camisa nove. Um dos que se arrastavam em campo em novembro de 1978, quando, no velho Joaquim Américo, o Atlético perdia para o Colorado por 4 a 0.
Aos 30 minutos do segundo tempo, ele fez um. O de honra. E que honra! E que hora! Aos 34, diminuiu. Aos 36, encostou. Aos 43 empatou. E só não virou aos 46, fazendo o terceiro gol de cabeça, que ela explodiu no travessão. Quatro gols em 15 minutos. A proeza de Ziquita. Ou apenas mais uma história de uma das mais apaixonadas torcidas do Brasil. Daquelas que fazem de um Ziquita um mito.
Daquelas que só podem não ganhar um campeonato brasileiro quando perdem para um Zico, em 1983, ou para uma zica danada, em 2004.
O Atlético é daqueles grandes brasileiros que só não são maiores porque, por vezes, a bola não dá pelota para quem não é de Rio e São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Mas quando se tenta comparar a incomparável e imensurável paixão, o Furacão é capaz de varrer muitas grandes torcidas só no grito.
Quem já viu (e ouviu, e sentiu) jogo na Arena sabe o que é isso.
Parabéns, Atlético. Você é jovem entre os grandes brasileiros. Continue com o mesmo espírito que eu torço ter em 2052.